A União Europeia está prestes a ganhar seu próprio sistema operacional baseado em Linux, e o projeto tem um nome sugestivo: EU OS. Desenvolvido como uma iniciativa comunitária, esse sistema promete oferecer uma alternativa soberana e segura para instituições públicas, reduzindo a dependência de gigantes tecnológicos como Microsoft e Apple.

Mas será que mais uma distribuição Linux pode realmente mudar o jogo? A resposta pode estar na abordagem única do EU OS, que não busca criar algo do zero, mas sim padronizar e adaptar soluções já existentes para atender às necessidades do setor público europeu.

O que torna o EU OS diferente?

Ao contrário de algumas distribuições Linux que surgem como projetos isolados, o EU OS não pretende ser uma criação totalmente nova. Ainda em estágio de prova de conceito, ele se baseia no Fedora, com o ambiente de desktop KDE Plasma, e propõe um modelo em camadas que permite personalizações nacionais, regionais e até mesmo institucionais.

A ideia é simples: em vez de cada país ou órgão público desenvolver seu próprio sistema do zero, o EU OS oferece uma base comum que pode ser adaptada conforme a necessidade. Isso significa que um município na Alemanha pode adicionar ferramentas específicas para gestão urbana, enquanto um hospital na França pode integrar softwares médicos sem precisar criar um sistema totalmente novo.

“Dinheiro público, código público”

Um dos princípios centrais do projeto é o conceito de “public money – public code” (dinheiro público, código público). A lógica é clara: se um software é desenvolvido com recursos públicos, ele deve ser aberto e acessível a todos. Isso não apenas reduz custos (afinal, sem licenças caras), mas também evita o vendor lock-in – aquela armadilha em que instituições ficam presas a um único fornecedor por anos.

Além disso, a adoção de um sistema baseado em Linux traz outras vantagens:

  • Segurança reforçada: Sem backdoors ocultos ou coleta de dados questionável;
  • Flexibilidade: Migrações e atualizações podem ser planejadas sem pressão de ciclos de licenciamento;
  • Eficiência: O sistema pode ser projetado para rodar bem até em hardware mais antigo, reduzindo custos com upgrades.

Essa não é a primeira vez que a Europa tenta adotar um sistema operacional próprio. Projetos como o LiMux, usado em Munique, e o GendBuntu, da polícia francesa, já pavimentaram o caminho – com altos e baixos.

O LiMux, por exemplo, foi um caso emblemático. Adotado pela prefeitura de Munique em 2006, ele mostrou que migrar para Linux é possível, mas também revelou desafios como a resistência de usuários acostumados ao Windows e a falta de suporte para alguns softwares proprietários. Já o GendBuntu provou que soluções baseadas em Linux podem funcionar em larga escala, com a Gendarmerie Nacional francesa operando mais de 90.000 estações com o sistema.

O EU OS parece ter aprendido com esses exemplos, optando por uma abordagem mais flexível e colaborativa, em vez de tentar impor uma solução única para todos.

Apesar do potencial, o projeto ainda está em fase de Proof-of-Concept (prova de conceito). Entre os próximos passos estão:

  • Testes em dispositivos reais para garantir compatibilidade;
  • Definir métodos de gerenciamento de usuários, softwares e dispositivos;
  • Convencer a Comissão Europeia a abraçar a iniciativa e hospedar o projeto oficialmente.

Se tudo der certo, o EU OS pode se tornar um padrão para administrações públicas em toda a Europa. Mas, se falhar, será mais um capítulo na longa história de tentativas de quebrar o domínio do Windows no setor governamental.

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