Se há um tema que cresce profunda e silenciosamente nos bastidores políticos e tecnológicos da União Europeia, é soberania digital. Não é um conceito novo, mas agora se tornou urgente. E dentro dessa disputa, distribuições Linux corporativas estão no centro da mesa.

A SUSE se moveu primeiro, anunciando um programa dedicado a suporte soberano para clientes da UE. Agora, a Red Hat faz o mesmo. A empresa anunciou que, a partir de 2026, lançará o Red Hat Confirmed Sovereign Support, um programa focado em atender exigências regulatórias europeias garantindo que suporte, operação e fluxo de dados sejam ancorados dentro da União Europeia, com uma equipe que vive e opera no bloco.

O conceito central é relativamente simples: dados produzidos dentro da Europa devem permanecer sob jurisdição europeia. Isso inclui onde os dados são processados, por onde trafegam, quem tem acesso e de onde vem o suporte técnico. O problema é que, historicamente, praticamente todo o stack de TI corporativo europeu depende de empresas americanas, como Microsoft, Oracle, AWS, Google Cloud, Azure e agora também fornecedores de IA.

Esse desconforto está sendo potencializado por questões diplomáticas e pela percepção de que o ciclo geopolítico global está ficando menos previsível. A Europa quer reduzir a dependência, por mais autonomia. E tem pressa.

A SUSE saiu na frente

A SUSE, por ser uma empresa baseada na Alemanha e Luxemburgo, iniciou em julho seu Sovereign Premium Support, com suporte premium totalmente dentro da UE, incluindo engenheiros e dados operando em solo europeu. Além disso, reforçou que isso não é só para empresas europeias: companhias globais que fazem negócio no bloco sofrerão pressão regulatória semelhante.

Quando anunciou o serviço, a SUSE citou dados da IDC indicando que 80% das organizações europeias já usam ou planejam usar clouds soberanas até o fim de 2025.

A Red Hat, por sua vez, enfrenta uma barreira que a rival não precisa superar: ela é americana e pertence à IBM. Isso dá mais trabalho regulatório, mais auditoria e mais necessidade de demonstrar controle e isolamento.

Por isso, a empresa enfatizou cinco pilares no anúncio do Red Hat Confirmed Sovereign Support:

  • Uma equipe exclusiva de cidadãos da UE;
  • Suporte operando somente dentro dos 27 países-membro;
  • Disponibilidade 24/7 exclusiva em território europeu;
  • Ecossistema local de mais de 500 provedores de cloud soberana;
  • Compatibilidade plena com o portfólio híbrido e AI da Red Hat.

Entretanto, há um detalhe: para a soberania digital, os grandes hyperscalers não resolvem. Mesmo que AWS, Google Cloud ou Azure prometam manter dados dentro da Europa, legislações dos EUA podem exigir que empresas americanas entreguem dados sob determinadas circunstâncias, inclusive se os servidores estiverem fisicamente fora do país.

Ou seja, cloud soberana genuína, para valer, precisa estar ancorada em provedores europeus. E nesse campo, SUSE tem vantagem inicial simplesmente porque já estava fazendo esse jogo antes.

O que muda agora para o mercado europeu?

Se a Red Hat conseguir chegar forte com o novo programa em 2026, ela pode equilibrar esse jogo rapidamente. E mais do que isso: pode aprofundar alianças locais. O anúncio de agora é um sinal para Bruxelas e para governos nacionais: a Red Hat quer ser considerada “europeia o suficiente” para participar da arquitetura soberana do continente.

Isso coloca pressão na SUSE. Ela tem uma janela curta para consolidar o terreno. Se conseguir fortalecer parcerias e amarrar mais provedores antes de 2026, terá uma vantagem duradoura.

A corrida pela soberania é uma briga geopolítica, econômica e filosófica. A Europa tenta criar um mundo onde serviços críticos não dependam de entidades externas com jurisdições externas.

Red Hat entrando oficialmente nessa disputa torna o jogo maior, mais complexo e mais global. É difícil dizer quem vai vencer, mas a SUSE tem tração, contexto legal e localização geográfica a favor. A Red Hat tem alcance global, marca forte e poder de influência gigantesco em Kubernetes.

A partir de 2026, quando o programa da Red Hat entrar em operação, o tabuleiro europeu vai estar completamente diferente do que era há poucos anos.Quer se aprofundar no tema de “soberania digital”? Veja quais são os países europeus que aderiram com mais força até agora!