Integrar computadores quânticos em datacenters “tradicionais” começa a se tornar uma questão cada vez mais latente. E quem está tentando organizar esse caos é o Open Compute Project (OCP), a mesma iniciativa que já ajudou a padronizar servidores, racks e até o “concreto para datacenter”.

Agora, o foco é: como colocar máquinas quânticas lado a lado com supercomputadores clássicos sem transformar o data center num pesadelo de engenharia?

Por que misturar um supercomputador clássico com computação quântica?

A ideia não é substituir supercomputadores por máquinas quânticas, mas usar os dois em conjunto em fluxos de trabalho híbridos: simulação científica, otimização, machine learning avançado… o grosso do trabalho continua no HPC clássico, mas partes específicas podem ser aceleradas pela máquina quântica.

Isso já está acontecendo em alguns poucos centros de pesquisa. Um exemplo é o Leibniz Supercomputing Centre (LRZ), que instalou um computador quântico supercondutor de 20 qubits ao lado da sua infraestrutura de HPC. A experiência deles virou um estudo de caso que o OCP quer usar como base para criar boas práticas e especificações abertas.

O datacenter padrão não foi feito pra isso

Um nó de HPC você instala em um rack, liga na energia, conecta na rede e integra no cluster. Um computador quântico supercondutor é outra história. Dentre os pontos que complicam tudo:

Peso e estrutura física

O coração do sistema é o cryostat, uma “geladeira” cilíndrica gigante que esfria o processador quântico a temperaturas próximas do zero absoluto. Só ele pode chegar a ~750 kg. O OCP já fala em projetar datacenters preparados para suportar algo como 1.000 kg/m² em certas áreas, com caminhos de acesso largos o suficiente para trazer o equipamento desmontado em grandes caixas.

Refrigeração

Racks de HPC modernos lidam com água de resfriamento a até ~45 °C. Já o sistema criogênico de um computador quântico exige água bem mais fria, entre 15 °C e 25 °C, além de ar-condicionado controlado para manter a sala com variação de temperatura mínima ao longo do dia. Mudanças muito pequenas de temperatura já podem bagunçar calibração e estabilidade dos qubits.

Ambiente “anti-ruído”

Computadores quânticos são extremamente sensíveis a vibrações, ruído e campos magnéticos. Coisas que um datacenter normal ignora, como trilhos de trem, estradas, ar-condicionado pesado, antenas de celular ou iluminação fluorescente muito perto, podem gerar ruído suficiente para degradar o desempenho quântico.

Por isso, instalações reais impõem requisitos como:

  • Campos magnéticos DC e AC dentro de um certo limite;
  • Controle rígido de umidade entre 25% e 60% para evitar condensação em componentes resfriados;
  • Evitar luz fluorescente a menos de alguns metros do sistema.

Tempo de recuperação:

Enquanto um nó de HPC clássico costuma voltar à vida minutos depois de uma queda de energia, um computador quântico pode levar dias. Se o sistema aquece demais, é preciso resfriar novamente todo o conjunto criogênico, um processo que pode passar de uma semana em cenários extremos, seguido de nova calibração.

Tudo isso leva o OCP a reforçar a necessidade de infraestrutura redundante (energia e água de refrigeração), justamente para evitar que pequenas falhas virem dez dias de indisponibilidade.

Muito além do hardware

O OCP também está de olho na parte menos “glamourosa”, mas essencial: como encaixar a máquina quântica no fluxo normal de um supercomputador. Experiências como a do LRZ mostram que:

  • O computador quântico precisa ser tratado como um acelerador especializado dentro do scheduler (como hoje se faz com GPUs);
  • A máquina exige calibração constante, que idealmente deve ser automatizada e orquestrada pelo mesmo sistema que gerencia filas de jobs;
  • É fundamental ter monitoramento integrado (temperatura, ruído, fidelidade de portas quânticas, etc.) para decidir quando recalibrar e quando o sistema está em condição ideal de uso.

Outro ponto importante é treinar usuários. Não adianta só instalar o hardware: é preciso preparar tanto a equipe de HPC tradicional (que não domina computação quântica) quanto os pesquisadores quânticos (que não necessariamente entendem de filas de jobs, quotas, integração com workflows clássicos, etc.).

O que o OCP quer entregar

A nova frente de trabalho do Open Compute Project deve resultar em white papers e checklists para projetar datacenters preparados para receber computadores quânticos, incluindo recomendações ambientais e estruturais, assim como boas práticas de integração operacional e de software.

Na prática, é o começo da padronização de algo que hoje ainda é “trabalho artesanal”: cada centro de pesquisa que instala um computador quântico passa por um ciclo de tentativa e erro. O OCP quer transformar essa experiência dispersa em um guia aberto, para que, quando a computação quântica sair da fase de laboratório e virar recurso comum em HPC, os datacenters já estejam prontos para recebê-la.

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