Entre 2024 e 2025, o discurso da eficiência via inteligência artificial tornou-se quase um mantra corporativo. De startups a gigantes de tecnologia, milhares de demissões foram justificadas em nome da automação. Mas, segundo a Forrester, essa onda de cortes “inteligentes” está cobrando seu preço.
O relatório “Predictions 2026: The Future of Work” aponta que metade das demissões nos EUA atribuídas à IA será revertida. Muitas empresas, após reduzirem drasticamente suas equipes, estão recontratando os mesmos cargos, mas agora com salários menores ou em outros países. A Forrester descreve o fenômeno como uma correção inevitável para quem apostou em ganhos ilusórios de produtividade.
O mito da substituição total
Segundo a análise, 55% das companhias que demitiram em nome da IA se arrependem da decisão. Em muitos casos, os executivos se deixaram levar pelo “futuro prometido da automação”, antecipando cortes antes de a tecnologia realmente se provar eficiente. “Muitas empresas alegam cortar empregos pela IA. Às vezes, isso resulta em fracassos espetaculares, e em outras, a IA nem chega a substituir os trabalhadores humanos”, diz o relatório.
A ironia é que, na média, mais líderes esperam que a IA aumente a força de trabalho (57%) do que a reduza (15%) no próximo ano. Isso revela um descompasso entre a narrativa corporativa e a realidade operacional: enquanto o discurso foca em “otimização”, o trabalho humano continua essencial, embora deslocado, fragmentado e, frequentemente, desvalorizado.
Para sustentar as metas de produtividade, muitas organizações estão reabrindo posições demitidas sob outros nomes. Os novos contratados, frequentemente offshore ou terceirizados, executam tarefas semelhantes às dos profissionais dispensados, porém com remuneração significativamente mais baixa.
O setor de Recursos Humanos é citado como um dos mais afetados. Ferramentas de IA estão sendo implementadas para triagem de currículos, planejamento de pessoal e gestão de talentos, reduzindo pela metade o tamanho das equipes. Entretanto, essas mesmas áreas são obrigadas a entregar o mesmo nível de serviço, levando empresas a contratar prestadores externos ou temporários para preencher lacunas.
A Forrester observa ainda um fenômeno curioso: a corrida por “produtos com IA”, muitas vezes soluções “AI-washed”, embaladas com marketing e pouca substância técnica. Apenas uma minoria dos gestores possui discernimento para distinguir tecnologia real de vaporware.
O entusiasmo começa a desinflar
A maré de promessas também tem encontrado resistência. Em junho, a Gartner previu que 40% dos projetos de IA generativa serão cancelados até 2027, por custos altos, resultados abaixo do esperado e riscos mal controlados. Pesquisadores ligados à Salesforce mostraram que agentes baseados em modelos de linguagem (LLMs) alcançam apenas 58% de sucesso em tarefas simples de CRM, e frequentemente falham em entender princípios básicos como a confidencialidade de dados de clientes.
Esses números já levaram empresas como Klarna e Duolingo a revisarem suas estratégias de automação. Outras, no entanto, seguem dobrando a aposta. A Salesforce anunciou recentemente 4.000 cortes na área de suporte ao cliente, enquanto a Amazon confirmou 14.000 demissões corporativas, ambas citando a “reorganização impulsionada por IA” como justificativa.
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