A pandemia funcionou como um catalisador permanente para o mercado brasileiro de tecnologia. O período de confinamento fez com que famílias inteiras reconhecessem o computador como um equipamento central, não apenas para trabalho, mas como um ambiente de estudo, entretenimento e conexão. Essa mudança de percepção criou uma demanda por máquinas mais capazes e um público final mais informado e exigente, que hoje busca atualizar os hardwares adquiridos de forma emergencial durante a crise.

Uma espera calculada

Nesse contexto, a consolidação das GPUs AMD Radeon no Brasil seguiu um caminho distinto e deliberadamente paciente. Enquanto a linha de processadores Ryzen conquistava espaço com lançamentos consistentes e ganhos de desempenho graduais, a estratégia para as placas de vídeo foi marcada por uma espera calculada. 

A marca optou por evitar lançar hardware de última geração em um ecossistema que ainda não estava preparado para aproveitá-lo plenamente. A ideia era simples: era preferível chegar ao mercado no momento certo, com conteúdo suficiente para justificar o investimento do usuário, do que ser o primeiro com um produto que se tornaria obsoleto antes de ser totalmente utilizado.

O ponto de virada ocorreu com a arquitetura RDNA 2 e a série Radeon RX 6000. Este ciclo de produtos representou o equilíbrio entre três fatores críticos: desempenho competitivo, preço acessível e tecnologia relevante. A RX 6600 personificou essa tríade, tornando-se a placa de maior volume de vendas por um longo período. Seu sucesso foi fundamentado na oferta de desempenho robusto para jogos em 1080p e 1440p a um ponto de custo-benefício que ressoou no mercado brasileiro, historicamente sensível a preço. 

A demanda foi tão sustentada que, mesmo após a descontinuação oficial dos chipsets pela AMD, os parceiros de board continuaram sua produção, impulsionados por estoques de componentes e por uma base de consumidores leais.

Cadência intergeracional

O êxito da série 6000 não foi um evento isolado, mas a base para uma consolidação estratégica. Ele pavimentou o caminho para a introdução da série 7000 e, mais recentemente, para o lançamento ambicioso da série 9000. 

A transição entre gerações é gerenciada cuidadosamente. Modelos como a 7800, 7700 e 7900 são naturalmente descontinuados, enquanto a RX 7600 é mantida em produção para ocupar o nicho de custo-benefício. Os primeiros lançamentos da nova geração, como a Radeon RX 9700 XT, já quebram recordes históricos de vendas, sinalizando que a confiança na marca foi restabelecida.

Transparência e timing a estratégia da AMD para reconquistar o mercado de GPUs 2

A jornada das Radeon no Brasil é um caso de estudo em pacificação estratégica e visão de longo prazo. A opção por construir uma base sólida com os processadores Ryzen, aguardar a maturação do ecossistema de software e só então atacar o mercado de GPUs com produtos relevantes mostrou-se possivelmente mais eficaz do que uma corrida por inovação imediata. O resultado é uma posição revitalizada no mercado, transformando a Radeon de uma alternativa marginal em uma concorrente forte e respeitada, prova de que transparência e timing podem valer mais do que a simples velocidade.

Este é um corte do Diocast. Assista na íntegra ao episódio onde conversamos com representantes da AMD sobre temas, como: como a empresa tem se estruturado por aqui; quais são os principais desafios e oportunidades que surgem ao atuar em um país com tanta diversidade de perfis de consumo e infraestrutura; e muito mais!