Há exatos 20 anos, a Microsoft enterrava um de seus projetos mais ambiciosos: o Windows Longhorn. Concebido para ser a grande revolução pós-Windows XP, o sistema acabou se tornando um exemplo clássico de como grandes ambições podem virar um pesadelo técnico. E quem melhor para contar essa história do que Dave Plummer, um ex-engenheiro da Microsoft que trabalhou no projeto e recentemente decidiu compartilhar os bastidores desse fracasso épico?

A promessa do Windows Longhorn

No início dos anos 2000, a Microsoft queria reinventar o Windows. O XP era um sucesso, mas a empresa já vislumbrava o futuro com o Windows Longhorn – um sistema que prometia não apenas uma nova interface, mas uma reformulação completa em três pilares: armazenamento, código gerenciado e experiência do usuário.

O grande destaque era o WinFS (Windows Future Storage), um sistema de arquivos baseado em banco de dados que permitiria buscar documentos por conteúdo, tags e relacionamentos, não apenas por nomes e pastas. Era, nas palavras de Plummer, “um plano ousado”. Junto disso, viriam um novo subsistema de apresentação (Avalon), uma estrutura unificada para comunicações (Indigo) e uma interface visualmente rica, deixando o tema Luna do XP no passado.

Só tinha um problema: tentar reinventar tudo ao mesmo tempo.

Um labirinto de bugs

Conforme o desenvolvimento avançava, a equipe percebeu que o Windows Longhorn estava se tornando um monstro incontrolável. O código estava frágil, as builds quebravam constantemente, e a integração entre os novos componentes era um pesadelo. Plummer relembra a tradição da Microsoft chamada “Dog Fooding”, onde os engenheiros usavam versões internas do sistema no dia a dia. Só que, no caso do Longhorn, “a comida de cachorro estava estragada”.

O WinFS, em particular, era um dos grandes vilões. A complexidade de implementar um sistema de arquivos baseado em banco de dados sem quebrar a compatibilidade com aplicativos existentes se mostrou uma tarefa hercúlea. Para piorar, em 2002, Bill Gates emitiu um memorando histórico declarando que a segurança seria a prioridade máxima da Microsoft. Isso desviou parte da equipe do Windows Longhorn para corrigir falhas no Windows XP, atrasando ainda mais o desenvolvimento.

Enquanto o time do Windows “consumer” continuava adicionando funcionalidades com a mentalidade de que “dava para ser menos rigoroso que o Windows Server”, o time de servidores mantinha uma abordagem mais metódica. A situação ficou tão crítica que Dave Cutler, lendário criador do Windows NT, sugeriu abandonar o código do Longhorn e partir do Windows Server 2003 SP1.

Em agosto de 2004, a Microsoft anunciou o reset do projeto. Anos de trabalho foram descartados, e os recursos mais estáveis do Longhorn foram migrados para a nova base. O resultado? Windows Vista, um sistema que herdou parte do visual moderno, mas perdeu o WinFS e várias outras inovações prometidas.

Fracasso ou lição aprendida?

Plummer reflete que o Longhorn foi, sim, um fracasso em seus objetivos originais. O WinFS nunca saiu do papel, os prazos foram ignorados, e a Microsoft só corrigiu o rumo quando a situação já estava insustentável. Mas também foi um marco de aprendizado.

A humildade forçada pela queda do Longhorn moldou a cultura de desenvolvimento da Microsoft nos anos seguintes. Se hoje o Windows tem ciclos de lançamento mais estáveis e uma abordagem menos revolucionária e mais incremental, muito disso vem das lições aprendidas com esse projeto.

No fim, o Longhorn pode não ter virado o sistema revolucionário que prometia ser, mas sua história permanece como um alerta eterno para a indústria de tecnologia: inovação demais, muito rápido, pode ser tão perigoso quanto não inovar nada.

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